Jesus, um projeto de libertação
Nos últimos séculos da história humana a religião possuiu
um papel fundamental na construção do pensamento humano, suas explicações,
dogmas, e credos estão intrínsecos a organização social. No ocidente o cristianismo
possuiu essa função modeladora das relações sociais, instituindo o que é vida e
morte, certo e errado, é a base do pensamento filosófico. O Brasil obviamente não fica excluído desse
processo civilizatório cristão, muitas vezes contraditório com a figura de
Jesus.
Jesus é um nazareno (na bíblia assim é popularmente conhecido), não era da Judéia, o que o colocava em uma situação de preconceito regional, uma vez que a Galiléia (sua terra natal) não era dos descentes do Rei Davi. O menino nasceu em uma manjedoura (um coxo de alimentar animais), filho de uma mãe solteira, que se casa as pressa, os primeiros a lhe receber após o nascimento são pastores de ovelhas. A humildade na narrativa de seu nascimento é proposital, Jesus é um homem do povo.
Incrivelmente o evangelho de João nos revela uma perspectiva mais profunda de Jesus, e o qualifica enquanto o próprio Deus encarnado, que veio aos homens a fim de apresentar o projeto divino. A grande discussão do que é o projeto do “reino de Deus” é central em todos os evangelhos, demonstrando em sua essência que esse projeto é de libertação dos pobres, enfermos, e possuído de idéias de dominação (os demônios do evangelho de Marcos). Jesus é condenado por mandar que renunciem a ordem econômica que gerava morte e aceitar o reino de Deus.
Só um Rei, no entanto, pode reinar na terra dos homens, no tempo de Jesus a cruz era conseqüência legal para quem desafiasse o poder real de César e seu Império. Com um justo julgamento, clamor popular (aos gritos de “crucifica-o”), em uma aliança entre os poderosos do templo e da cidade Cristo foi condenado. O projeto divino de libertação vence a própria morte, a ressurreição é confirmada por mulheres, que até o final acreditaram na vitória do projeto de Deus. Um nítido recado é passado nessas sagradas escrituras: nem a morte vence a libertação do povo de Deus.
Muito foi distorcido de toda essa narrativa de libertação, possível não só de ser encontrada no Novo Testamento, Deus já em outras narrativas havia libertado o povo do Egito (Êxodos), e guiado seu povo no exílio da Babilônia. A narrativa distorcida por séculos na Europa, com finalidades ideológicas, de dominação, justificava como os demônios do Evangelho de Marcos a escravidão negra, bem como a luta contra diversos movimentos populares e de libertação. Aqui na América Latina que um novo tipo de cristianismo passa a ser construído, o cristianismo que resgata o projeto de libertação.
A teologia da libertação é construída então a partir da necessidade de cristãos defender o projeto divino, indignados com os regimes ditatoriais latinos americanos, não era possível ser cristão e ser passivo frente as injustiças sociais. Atualmente a linha teológica ainda se mostra resistente, em um mundo ainda de muitas desigualdades. Defender os pobres, lutar pela libertação dos povos, a construção de um mundo de justiça e não de riquezas é nessa perspectiva construir o projeto de Deus.
Muitos que hoje reivindicam o cristianismo teme a certos conceitos, e palavras de libertação, enganados por igrejas que preferem pregar a prosperidade individual e seletiva de um Deus, do que um projeto coletivo de salvação. Negam as escrituras enganadas em uma ideologia, possuídos por ideias que geram a morte de seus iguais, o mesmo Deus medieval europeu que justificava o rei absolutista legitima a riqueza desproporcional do burguês moderno. Seguem no entanto não a lógica divina proclamada nos evangelhos, mas a lógica dos reis, e dos poderosos que de tempos em tempos enganam o povo de Deus e os escravizam.
O projeto divino é maior do que qualquer rei, qualquer morte, ou Império, transcende até mesmo a crença, afinal de contas muitos dos que hoje lutam contra tiranias, e injustiça são ateus. A certeza da vitória desse projeto está em cada uma e um que se indigna e levanta contra os poderosos, que assim como Jesus não temem a lei, a ordem (seja ela imperial ou religiosa), indo até a morte para defender o projeto de libertação. Lutar contra perseguição políticas, em nome da soberania do povo, contra os nossos demônios (racismo, machismo, LGBTfobias), contra a concentração de renda, a dominação dos povos é colocar na práticas as sagradas escrituras.
“Vós não podeis servir
a Deus e ao Dinheiro.” Mateus 6,24.
Leopoldo Ferreira Antunes, graduando de Direito na Universidade Federal Fluminense.
Leopoldo Ferreira Antunes, graduando de Direito na Universidade Federal Fluminense.

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