Reflexões sobre Rosa Luxemburgo - Parte 1

"A social-democracia tem

laços indissolúveis entre 
as reformas, sendo as re-

formas sociais um meio,
e revolução social um fim"

           
Rosa Luxemburgo

Num dia qualquer, enquanto visitava sites e grupos no Facebook, encontrei o que, nas minhas palavras, foi um dos melhores achados do fim de ano: o luxemburguismo.

"Ué, que tipo de revisionismo é esse ?" - brinquei com um colega. Nunca tinha escutado falar sobre essa corrente ideológica, nem sobre sua principal teórica. Nada que um Wikipédia não resolva, e então, lá fui eu saber sobre sua vida.

Nessa publicação saberemos um pouco sobre sua vida e minha impressões sobre sua obra Reforma ou Revolução.

Vida e Morte

Aos 13 anos, entra para a escola secundária em Varsóvia, feito raro para uma mulher nessa época. Gradua-se ali em 1887, não recebendo uma medalha de ouro por ter entrado no movimento revolucionário estudantil.

Perseguida pela polícia, deixa a Polônia e segue para a Suíça, onde adquire seu doutorado em ciência política, com uma tese sobre o desenvolvimento industrial da Polônia.

Influenciada por revolucionários russos exilados, foi apresentada as obras de Karl Marx, não tardando em se destacar pelas suas qualidades como escritora e oradora. Durante a primavera de 1898, mudou-se para Berlim, onde se fixa e ingressa no Partido Social-democrata Alemão(SPD), partido esse que ocupava uma importante posição no movimento socialista do momento.

Ao mesmo momento que Rosa chegava a Berlim, Eduard Bernstein acabara de publicar na revista teórica do partido, a Neue Zeith [Novo Tempo], uma série de artigos no qual propõe uma revisão dos princípios básicos do marxismo, consolidando-os em seu livro As premissas para o socialismo e as tarefas da social-democracia.

Tendo a direção se ausentado e não se opondo as posições defendidas por ele, sobrando então para Rosa a tarefa de travar um debate, publicando dois artigos rebatendo as ideias revisionistas de Bernstein, sendo eles organizados no livro Reforma ou Revolução, publicado pela primeira vez em 1900, tornando-se assim um clássico da literatura revolucionária e dando projeção ao seu nome dentro do partido.

Graças, em parte, ao trabalho de Rosa, o debate dentro do SPD e da Segunda Internacional prosseguiu, tendo Bernstein sido derrotado nos congressos de 1901 e 1903 do SPD, assim como no congresso de 1904 da Internacional.

Após anos trilhando um caminho brilhante, o SPD em 1914 vota a favor da alocação de recursos para o exército, fato esse que leva a Primeira Guerra Mundial e gera uma crise partidária, levando a saída de inúmeros membros.

Com a derrota alemã na Primeira Guerra, uma crise revolucionária eclode na Europa. Em 1919, seguindo exemplo de outras cidades, em Berlin se forma uma república baseada nos conselhos de trabalhadores. Rosa, sempre a frente dos movimentos revolucionários alemães, é presa pela segunda vez a mando do ministro social-democrata Noske, que esmaga o movimento por ela dirigido. Então no dia 15 de Novembro o mundo perde umas maiores influências para o Marxismo mundial. Rosa foi executada com um tiro na nuca, aos 48 anos de idade.

Mas o que torna Rosa Luxemburgo uma teórica tão importante e respeitada nos meio marxista ?

Como disse acima, Rosa trava um debate importantissímo com Bernstein sobre os caminhos que o SPD deveria tomar. Mas afinal, "Pode a social-democracia ser contra as reformas ?". Logo em seu prefácio, Rosa já responde categoricamente a tal indagação: não. E não pode.

Então pelo o que a social-democracia deve lutar ? Qual a finalidade do partido ? O que defende ?

A social-democracia: Rosa x Bersntein 

A social democracia, segundo Rosa, é luta do cotidiano dentro do sistema vigente pela melhoria da classe trabalhadora, travando a disputa dentro das instituições democráticas, sendo por elas a única maneira de lutar pela classe operária, em busca de poder político e supressão dos assalariado.

Acredita-se que por meio da social-democracia é possível alcançar um socialismo, previsto pela teoria socialista de Marx e Engels, utilizando 3 pivôs centrais que encaminhariam a sociedade ao socialismo, e são eles:

1. A anarquia econômica crescente do sistema capitalista;

2. A socialização progressiva do processo de produção, que cria os germes para o regime social futuro;

3. O reforçamento gradual da organização e da consciência de classe do proletariado, que constitui o fator ativo da próxima revolução.

Então, por que no cerne da teoria de Bernstein acerca do capitalismo e do socialismo, seus argumentos são anti-marxistas ?

Teoria do desmoronamento x Teoria da adaptação do capitalismo

Publicado em seus artigos sobre os "Problemas do Socialismo" em 1897 e 1898, na Neue Zeit, e principalmente em seu livro "Os fundamentos do socialismo e as finalidades a social-democracia" que encontramos pela primeira vez o renunciamento à transformação social como finalidade da social-democracia, transformando as reformas sociais não como um meio na luta de classe, mas sim como a finalidade de um partido social democrata. O próprio Bernstein elabora seu ponto de vista ao escrever: "O objetivo final, qualquer que seja ele, não importa; o movimento que é tudo". 

Bernstein afirma que a marcha do movimento do desenvolvimento capitalismo não levaria ao seu colapso, mas sim a uma diminuição do acirramento da luta de classes entre burgueses e proletários, o que vai de encontro ao conceito do socialismo estabelecido por Marx e Engels.

A base de afirmação para sua teoria são 3 pontos que explicam a adaptação do capitalismo:

1. A capacidade de adaptação do capitalismo, através dos sistemas de crédito e das organizações patronais, das comunicações e do serviço de informação;

2. A tenacidade da classe média, que é o proletariado que ascende devido a diferenciação dos ramos de produção;

3. Melhora da situação econômica e política do proletariado.

Ao afirmar esses 3 pontos, argumentando que o capitalismo não encontrará o seu fim por causa disso, Bernstein dá ínicio ao primeiro grande revisionismo da teoria marxista. Portanto, a teoria da adaptação do capitalismo, assim como a política da social-democracia, chega a um dilema: ou a transformação é socialista, como se acreditava até o momento (considerando que o desenvolvimento do capitalismo criaria contradições internas do sistema e que levaria ao seu fim), ou os meios de adaptação impedem o desmoronamento do capitalismo, mantendo-o vivo por consequência e, por isso, suprimindo todas as suas contradições.

 Não apenas as contradições acima, mas Rosa também afirma que, caso Bernstein esteja correto sobre sua analise do capitalismo, o socialismo deixa de ser uma necessidade histórica, e passa a ser o que se queria, menos um resultado do desenvolvimento material da sociedade.

O ponto levantada por ela nos leva a outra contradição: ou o revisionismo proposto por Bernstein está correto e o socialismo é uma utopia; ou o socialismo não é uma utopia e a "teoria da adaptação do capitalismo" está errada.

This is the question. É assim que se põe a questão.

Conclusões

Analisando esse que foi principalmente anotações e ideias retiradas do primeiro capítulo de Reforma ou Revolução, podemos claramente ver os principais pontos onde Bernstein falha em sua analise do desenvolvimento do Capitalismo. Ao negar que o próprio sistema criaria sua ruína, Bernstein vai de encontro à um dos pivôs da mudança da ordem social vigente naquele momento, algo que é muito bem explicado e rebatido por Rosa Luxemburgo.

Terminando esse primeiro texto do blog, podemos também nos deparar nos pontos em que se dá a discussão entre Eduard Bernstein, o primeiro autor a publicar um grande revisionismo do marxismo, e Rosa Luxemburgo, que produz um trabalho incrível ao rebater as ideias anti-marxistas.

Lembrando que isso é uma visão pessoal, um entendimento meu com o que eu li, sempre tendo em mente que somos abertos ao díalogo e discussões, seja na caixa de comentários, inbox do Facebook ou e-mail.